- 24/06/2020
- Posted by: AmanMorbeck
- Categories: Educação financeira, Finanças pessoais
Independentemente dos seus objetivos de vida, da sua idade e do quanto você ganha, para conquistar presente e futuro melhores é fundamental entender a importância de gastar menos e investir mais. Muitas vezes, você pode se convencer de que não há onde fazer ajustes no orçamento mensal, mas pode ser que você, como a maioria das pessoas, não tenha controle sobre seus ganhos e seus gastos, vivendo mês a mês sem saber para onde vai seu dinheiro.
Por isso, antes das dicas deste post, sugiro que você conheça seu histórico financeiro mensal por um período de 12 meses – por exemplo, de julho próximo até junho de 2021 – para realmente visualizar seus ganhos e seus gastos. Você pode fazer isso em folhas de papel, num caderno, numa planilha de Excel ou num aplicativo para celular. Depois disso, veja onde você pode ajustar – diminuindo ou cortando – para fazer seu suado dinheirinho sobrar para você investir.
O que vou tratar neste post é sobre prioridades, sobre consumir de forma consciente, de modo que isso não sacrifique aquilo que realmente pode fazer diferença na sua vida e na de sua família: a estabilidade financeira, a reserva para imprevistos, o investimento para planos e sonhos e finalmente a conquista da independência financeira. E essa construção é feita aos poucos, como subir uma escada – um degrau de cada vez.
Veja agora se as 7 dicas abaixo poderão te ajudar nesse processo:
1. Comer fora ou delivery com frequência
É realmente prazeroso comer fora, experimentar temperos diferentes, compartilhar uma boa refeição com quem amamos, conhecer aquele restaurante que acabou de ser aberto. O problema é que esse hábito não sai barato. E dependendo da frequência com que ele acontece, pode causar um rombo silencioso no orçamento, principalmente porque a utilização do cartão de crédito nessas ocasiões provoca a sensação de que “não gastei tanto assim”. A questão é que, somados ao prato principal, estão a entrada, a bebida, a sobremesa, o café, a gorjeta e, dependendo do lugar, o estacionamento – com ou sem manobrista, ou seja, uma bola de neve.
O mesmo acontece com delivery, cujo pedido geralmente vem acompanhado de alguma bebida e, por causa do conforto de ser entregue onde você estiver, a taxa de entrega tem um custo extra considerável.
Isso não significa que comer fora ou pedir comida em domicílio deva ser riscado por completo, por isso as duas palavrinhas “com frequência”. Tudo cabe no orçamento desde que haja planejamento e dinheiro suficiente para pagar por aquela despesa sem prejudicar seus objetivos de investimento.
Cozinhar em casa é mais simples do que muitas pessoas acreditam – e não estou falando apenas de comprar comida congelada. Cozinhar uma porção de pasta e fazer um molho vermelho não é um bicho de sete cabeças e pode ser acompanhada por uma proteína e uma taça de vinho, por exemplo. Levar marmita para o trabalho, por mais que possa soar “muquirana” ou “antissocial” (pois não irá a restaurantes com os amigos do trabalho), é uma opção a ser considerada – mesmo que não seja todos os dias. O resultado no fim do mês não dá para ser desprezado.
2. Aquisição de novo celular a cada lançamento
O que realmente muda tanto entre um lançamento e outro de um iPhone, de um Samsung ou de um Motorola que precisamos nos endividar para adquirir? Muitas vezes, os recursos que o aparelho oferece são usados pela metade e o motivo para ficar na loucura de ter um novo é apenas para mostrar aos outros – que não vão pagar a conta.
O projeto mais relevante na nossa vida deveria ser o de nos tornarmos financeiramente independentes, ou seja, de nos livrarmos da obrigação de correr atrás do dinheiro por meio do trabalho e investirmos o quanto pudermos para que o dinheiro trabalhe para nós. Dessa forma, temos mais liberdade de escolha para fazermos aquilo que realmente tem a ver conosco sem precisarmos de nos submeter a uma possível série de insatisfações por não termos opção. E são essas economias que fazemos ao longo do tempo que contribuem para determinar quão rápido ou quão lento podemos alcançar esse objetivo.
Agora, se a troca de celular é superimportante, por que não planejar de forma consciente, guardar dinheiro para aquele fim ao longo do tempo, fazer trabalhos extras para ganhar mais, se for o caso, e dar mais tempo entre uma troca e outra? Fora isso, é importante considerar se é realmente necessário adquirir o lançamento top de linha ou se pode ser um modelo intermediário. Já vi pessoas que ganham pouco mais de salário mínimo comprando iPhone de última geração em mais de uma dezena de prestações mensais, enquanto o quinto homem mais rico do mundo hoje, Warren Buffett (com fortuna de US$ 71 bilhões), até poucos meses atrás tinha um Nokia flip superantigo (veja aqui).
3. Roupas e acessórios
Esse é um dos gastos que tem como marca a impulsividade, pois sempre haverá “aquela” liquidação, “aquele” desconto, “aquela” última peça para justificar a compra – e mais uma vez, o cartão de crédito funciona maravilhosamente nesses momentos. Quantas peças de roupa e quantos calçados muitas pessoas compram e nunca usam, enquanto novas compras continuam acontecendo? Se você tem compulsão por comprar o que não precisa, por que fazer passeio em shopping center, por exemplo? E se o fizer, por que levar o cartão de crédito? Como escrevi neste post, o cartão de crédito não sai da carteira sozinho.
Para quem segue tendência de moda, que muda sempre em poucos meses, isso é ainda pior. Acreditar que roupas, calçados e acessórios nos tornam mais atraentes ou mais importantes é uma jogada de marketing bastante sedutora e que funciona muito bem, senão o universo da moda não seria tão bem-sucedido, enquanto tantas pessoas que pagam por ela muitas vezes deixam em segundo plano o consumo do que é até mais essencial para seu bem-estar e para a saúde.
Portanto, planeje-se antes de comprar itens dessa categoria, faça uma vistoria no guarda-roupas, veja o que pode recombinar e considere também consumir produtos de brechó, como faz a educadora financeira – e milionária – Nathalia Arcuri, criadora do projeto Me Poupe!.
4. Jogar na loteria
Meus pais sempre foram muito trabalhadores, mas sempre fomos pobres. Tínhamos o básico, mas moramos de aluguel por muito tempo, depois de favor na casa de uma parente, até que finalmente um primo meu deu um lote de presente para minha mãe na condição de que ela construísse uma casinha para estimular a venda de um loteamento que ele lançou na cidade, num local afastado do centro. Aos trancos e barrancos, costurando e bordando por horas e horas todos os dias e ainda tomando conta dos afazeres de casa e de duas filhas pequenas, minha mãe foi juntando o dinheiro e colocando na construção. Enquanto isso, meu pai trabalhava como mecânico para garantir as despesas básicas. E a casinha de meia-água, com apenas cinco cômodos bem apertados, foi erguida o suficiente para nos mudarmos e o acabamento seria feito depois. Eu tinha 11 anos de idade nessa época. E já nessa fase e pelos próximos anos da minha vida, não sei contar quantas vezes vi meu pai jogando na loteria e nos prometendo uma casa melhor, um carro e mais um tanto de coisas quando ganhasse o grande prêmio, o que nunca aconteceu… A casa foi melhorada ao longo do tempo, muitos eletrodomésticos adquiridos (inclusive a primeira TV a cores) e o primeiro carro foi comprado graças ao meu trabalho, à continuidade do trabalho da minha mãe e depois ao da minha irmã. Quando meu pai faleceu, em 2010, sua aposentadoria era de pouco mais de R$ 700,00.
O que quero dizer com isso é que, mesmo que pareça pouco, o dinheiro gasto em qualquer tipo de loteria faz diferença ao longo do tempo. Para ilustrar, fiz uma simulação com o Tesouro IPCA+2035 hoje fazendo investimentos mensais de apenas R$ 40,00 (R$ 10,00 semanais) por 15 anos. Resultado? R$ 11.913,37 acumulados – já descontados Imposto de Renda e taxa da B3. Ou seja, como as chances de ganhar são muito, muito, muito pequenas, esses quase R$ 12.000,00 serão dados de presente para o governo e para os possíveis ganhadores ao longo do tempo, enquanto a maioria dos apostadores ficou mais pobre.
5. Garantia estendida
Melhor que pagar por garantia estendida talvez seja juntar mais dinheiro para comprar um item que tenha melhor qualidade e, portanto, vida mais longa com menos problemas. Em todos os segmentos há marcas mais ou menos tradicionais e, se houver dúvida em relação ao produto que você quer adquirir, basta fazer uma pesquisa cuidadosa na internet para descobrir os prós e os contras dele.
Dou um exemplo: resolvi comprar um gazebo para colocar numa área externa aqui em casa, mas não tinha ideia da marca. Comecei a pesquisar e fui lendo os comentários de compradores e, aos poucos, fui eliminando aqueles que pareciam mais atraentes, principalmente por causa do preço, e acabei escolhendo um que me pareceu o melhor dentro do orçamento que eu havia estabelecido. Claro que no caso do gazebo não há garantia estendida, o que é mais comum em eletrodomésticos e eletrônicos. Esse exemplo que dei foi no sentido de pesquisar sobre o item que você quer comprar.
Outra coisa importante em relação à garantia estendida é ver se ela realmente cobre aquele problema que te causa mais preocupação. Muitas vezes, justamente aquela cobertura pode não estar contemplada, o que não justifica sua aquisição.
6. TV a cabo
Até 2017 eu tinha assinatura de TV a cabo porque ainda conseguia assistir um ou outro programa que me interessava e que deixava programado para gravar. Assim, eu podia assistir quando tinha tempo. Mas isso começou a não ser mais interessante quando comparei o que eu consumia e o que eu pagava para ter aquelas poucas horas de diversão. Optei, então, por manter a Netflix e, quando a Amazon Prime chegou por aqui no ano passado, contratei também. Agora, em vez de pagar mais de R$ 100,00 de mensalidade, o total dos dois streaming é de R$ 31,00.
Portanto, observe se você não está pagando por algo que não usufrui para justificar o gasto. Numa conta rápida, se você economizar em torno de R$ 100,00 na TV a cabo e investir por 15 anos esse valor no Tesouro IPCA+ 2035, chegará ao final com quase R$ 30.000,00!
7. Compras por impulso ou não programadas
Mencionei a questão da compra por impulso anteriormente, no item sobre vestuário. Mas não é só nessa categoria que compras assim acontecem, pois todos os dias somos bombardeados por “convites” para consumirmos o que na maioria das vezes não precisamos. Por exemplo, quando vamos ao supermercado ou a uma papelaria, quando nos aproximamos do caixa geralmente passamos por um corredor com exposição de chicletes, chocolates, baterias, canetas, biscoitos etc. Muitas vezes, não precisamos comprar mais nada, mas no impulso pegamos um pacote de bolacha ou um tablete de chocolate. Ou seja, esses produtos não estão ali à toa, mas como provocação para que o impulso prevaleça.
As compras por impulso geralmente são as que não custam tanto e que eu comparo a vazamentos. Por exemplo, se na sua casa uma das torneiras tiver problema para fechar e a água ficar pingando por ela por dias e dias, isso causará um impacto na conta mensal. Por mais que pareçam inofensivas, uma gotinha atrás da outra causará um estrago. É assim com esses gastos “pequenos” e “inofensivos” não programados. Basta você somá-los ao longo de alguns meses para comprovar.
Aquilo que é mais caro para ser adquirido requer um tipo de reflexão. Por exemplo, para comprar uma geladeira ou uma máquina de lavar a atitude em geral é outra, pois o peso no orçamento também é diferente. A questão é que, independentemente do valor, tudo aquilo que sair da nossa carteira deveria ser considerado cuidadosamente, quando deveríamos nos perguntar: Quero ou preciso desse item? É apenas um desejo ou é realmente uma necessidade? Tenho como pagar por isso sem prejudicar outros aspectos do meu planejamento?
Será que consegui te ajudar a rever algumas atitudes que podem te levar a refletir sobre a importância de ter uma financeira mais equilibrada?
(Acesse aqui a lista com todos os posts publicados no blog do Você e seu Dinheiro.)
Escrito por Amandina Morbeck
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