- 11/10/2021
- Posted by: AmanMorbeck
- Categories: Educação financeira, Empoderamento feminino, Independência financeira
Fiquei muito surpresa ao descobrir a existência de Eufrasia Teixeira Leite, a primeira mulher a investir na Bolsa de Valores brasileira – e do mundo todo – nos idos de 1873, e já tem um tempinho que quero escrever sobre ela. Sua história foi resgatada pela escritora Mariana Ribeiro, que também é analista financeira e ficou 8 anos pesquisando sobre essa brasileira. O resultado é o livro #QUEROSEREUFRASIA (Quero ser Eufrasia), lançado em 2019.
Ela desbravou os cinco continentes, investiu em 7 moedas diferentes em mais de 10 países (em 1890 já operava nas Bolsas de Valores de Paris, Nova York e Londres) e acumulou um patrimônio considerável – quando morreu, o montante de sua fortuna correspondia a R$ 800 milhões nos dias de hoje. Sua história, porém, é bem mais relevante pelas áreas que atuou e não apenas pelo dinheiro que ganhou.
Muito rica ainda jovem
Eufrasia nasceu em Vassouras (RJ), em 1850, e seus pais eram donos de uma fazenda. Quando faleceram, Eufrasia tinha 22 anos, herdou sua parte na herança e optou por mudar-se do Brasil na companhia de sua irmã, estabelecendo-se em Paris, onde morou até 1928. E aí, em vez de torrar a grana mundo afora, aprendeu foi a cuidar muito bem dele, fazendo diversificações e vendo-o crescer por meio de investimentos corretos, o que fez com que chegasse a ficar bem perto de ser bilionária depois de investir por quase 55 anos e acumular 2 toneladas de ouro.
Agora, imagine o que ela passou sendo mulher… Se a sociedade ainda é tão restritiva com as mulheres nos dias de hoje, o que dizer sobre aquela época? A situação era tão complicada que Eufrasia não podia ir à Bolsa de Valores para compras e vendas, por isso enviava um representante para fazer as operações por ela.
Independência, causas sociais e filantropia
Eufrasia optou pela total independência para cuidar do seu patrimônio. Nunca se casou, pois se o fizesse seu marido teria total poder sobre sua riqueza. Por 14 anos, namorou o abolicionista Joaquim Nabuco, que também é o fundador da Academia Brasileira de Letras. Atuou em áreas como mobilidade urbana, alfabetização feminina, defesa dos animais, gestão e sustentabilidade e apoiou os sobreviventes da Primeira Guerra. Quando morreu aos 80 anos, em 1930, não tinha herdeiros e seu inventário levou 22 anos para ser concluído por causa da complexidade e da diversificação de seu patrimônio.
Doou boa parte de seu patrimônio para o município de Vassouras, sua cidade natal, para a construção de escolas e de um hospital. Inaugurado em 1941, o hospital leva seu nome, tem mais de 200 leitos e até hoje atende a comunidade de Vassouras, embora atualmente sua situação seja um tanto precária por questões administrativas.
Uma história de vida admirável, cujo acervo está preservado no Museu Casa da Hera, estabelecido numa chácara que foi deixada por seu pai e localizado nesse mesmo município.
Mulheres na Bolsa de Valores no Brasil
Num país que até 1962 não permitia que mulheres trabalhassem sem o consentimento do marido, chegamos ao segundo trimestre de 2021 com 29% de investidoras, quase 1 milhão de poderosas, conforme gráfico abaixo elaborado pela B3: