- 24/01/2020
- Posted by: AmanMorbeck
- Categories: Educação financeira, Planejamento financeiro
No geral, as pessoas sonham em ter seu próprio negócio, mas antes de empreender, conheça seu perfil e informe-se ao máximo sobre a atividade que escolheu. Desemprego, insatisfação no trabalho, expectativa de ganhos mais altos, idealização sobre ser dono(a) do próprio nariz para fazer o que quiser e do jeito que achar melhor, possibilidade de dar uma guinada na vida, ter o que fazer após a aposentadoria etc. Essas são algumas das razões pelas quais muita gente começa um negócio. Só que na vida real os desafios são muito grandes e, infelizmente, esse sonho de se tornar empreendedor(a) pode se transformar em pesadelo.
Mais de 100 pequenos negócios fechados
Há pouco mais de 6 anos mudei-me da capital paulista para uma cidade muito pequena no sul de Minas Gerais, onde eu já alugava casa para fins de semana e feriados desde 2010. Vendo o abre e fecha de pequenos negócios, como restaurantes, bares e lojas, entre outros, comecei a listar os que eu havia conhecido e não mais existiam, complementando com a ajuda de amigos com outros que desconhecia. E pasme: já são mais de 130 estabelecimentos numa lista que não para de crescer.
A cidade é pitoresca e seu município montanhoso atrai muitos turistas ao longo do ano, mas principalmente no inverno, quando as temperaturas baixam muito, às vezes até com formação de geada nos bairros mais frios. No verão, o destaque são as cachoeiras. E assim, ao longo do ano, tem sempre gente passando por aqui, consumindo nos restaurantes e nos outros comércios locais. E foi em passeios como visitantes que muitas pessoas resolveram ficar e abrir seu negócio ou comprar/arrendar um que estivesse funcionando. Com isso, fugiam da loucura de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, tinham uma atividade – muitas vezes investindo toda a economia de uma vida – e podiam viver uma vida mais tranquila.
Mas quantos deles tinham conhecimento e experiência para tocar um negócio? Quantos deles se prepararam para isso? Parece tudo tão simples, não? Abro as portas do meu restaurante ou da minha loja, os turistas chegam e gastam, eu ganho dinheiro, depois fecho as portas, vou para casa descansar e com o dinheiro ganho pago as contas e vou recompondo o que gastei. Só que as contas não fecham tão redondinhas assim, independentemente de onde as pessoas estão e do tipo de negócio que abrem, seja para atender demanda sazonal ou não. E é aí, depois de lutar bravamente para manter as portas abertas, que muitos desistem.
SEBRAE publica dados que são muito úteis a quem quer empreender ou já empreende
Há muitos recursos pagos e gratuitos disponíveis para quem quer aprender como começar a trilhar no mundo do empreendedorismo, além de dados ao alcance de um clique, basta saber e querer buscar. Por exemplo, no relatório Panorama dos Pequenos Negócios, publicado pelo SEBRAE São Paulo em 2018, encontramos a informação de que 23,7% das empresas (1 em cada 4) constituídas a partir de 2012 fecharam antes de atingir 2 anos de existência – dados de 2016.
O SEBRAE também tem um levantamento, Causa mortis – o sucesso e o fracasso das empresas nos primeiros 5 anos de vida, no qual aponta os seguintes aspectos que influenciam o sucesso ou o fracasso de um negócio:
a) Planejamento prévio
Estes tópicos devem fazer parte do planejamento antes da abertura e ser atualizados periodicamente, pois sem conhecer o terreno onde está pisando e sem se preparar para os desafios que podem ocorrer ao longo do caminho, a empresa fica muito vulnerável e tem dificuldades de continuar com as portas abertas, mas o resultado da pesquisa é surpreendente:
- 46% dos empreendedores não sabiam muita coisa sobre os possíveis clientes (quantos eram? que hábitos tinham?).
- 39% não sabia qual era o capital de giro necessário para o negócio. (Bom, se você também não sabe, vamos lá: capital de giro é a reserva de dinheiro que todo empreendedor precisa ter para pagar as contas do dia a dia, faça chuva ou faça sol. Ou seja, se não vender o suficiente durante 1 ou 12 meses, aquelas despesas precisam ser quitadas, por isso a importância de ter dinheiro em caixa sem depender do possível lucro do negócio.)
- 38% não se preocupou em fazer análise da concorrência, isto é, não avaliou quantos concorrentes seu negócio teria.
b) Gestão empresarial
Fundamental ao longo do tempo:
- Melhora de produtos e serviços.
- Atualização, como conhecimento e adoção de novas tecnologias relacionadas ao melhor funcionamento do negócio.
- Inovação em processos e em procedimentos.
- Investimento em capacitação profissional pessoal e dos colaboradores. Nesse item, um aspecto que fez diferença às empresas que não fecharam foi a experiência prévia do empreendedor no ramo escolhido. Assim, fica a sugestão: se você não tem conhecimento ou experiência em determinada área que quer atuar, invista primeiro em conhecimento, deixe os “achismos” de lado e capacite-se antes para não dar um salto no escuro.
c) Comportamento do empreendedor
O empreendedor comprometido antecipa-se aos fatos, busca por informações o tempo todo e persiste nos objetivos, sem cair fora nos primeiros desafios. Além disso, cria um plano de ações para seguir, define metas e planeja o que deve fazer para alcançá-las.
Viu como não é simplesmente pegar economias e registrar um CNPJ o papel de um(a) empreendedor? Complemento com as frases de quem realmente entende sobre o sucesso e o insucesso no mundo dos negócios:
“No caso de sobrevivência/mortalidade das empresas, em pesquisa realizada pelo SEBRAE em 2016, verificamos que, entre as empresas que fecharam, há uma proporção maior de empresários que estavam desempregados antes de abrir o negócio; que tinham pouca experiência no ramo, que abriram o negócio por necessidade e/ou exigência de cliente/fornecedor; que tiveram menos tempo para planejar o negócio; que não conseguiram negociar com fornecedores; que não aperfeiçoaram seus produtos/serviços; não investiam na capacitação da mão de obra; inovavam menos; não faziam o acompanhamento rigoroso de receitas e despesas; não diferenciavam seus produtos; não investiam na sua própria capacitação em gestão empresarial e também porque não conseguiram financiamento junto aos bancos.”
(José Márcio Martins, analista do SEBRAE Minas)
“A falta de planejamento (incluindo a ausência de um bom orçamento) geralmente é o fator determinante. A correta aplicação dos recursos, provavelmente, viria logo após. Para evitar riscos o empreendedor deve seguir o planejamento sempre dentro do orçamento, corrigindo quaisquer desvios na trajetória traçada.”
(Ricardo Teixeira, coordenador de MBA em Gestão Financeira da FGV, sobre os motivos da mortalidade das empresas)
Para complementar este post, sugiro que você leia também:
- Por três anos seguidos o Brasil fecha mais empresas do que abre
- Em três anos, 341,6 mil empresas foram fechadas no Brasil, aponta IBGE
(Acesse aqui a lista com todos os posts publicados no blog do Você e seu Dinheiro.)
Escrito por Amandina Morbeck
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