Ford vai fechar as fábricas no Brasil

A notícia de que a Ford vai fechar as fábricas no Brasil pegou o mercado de surpresa hoje, 11 de janeiro de 2021. As duas unidades localizadas em Camaçari (BA) – que produz o Ka e o EcoSport – e em Taubaté (SP) – que produz motores e transmissões – terão suas operações encerradas imediatamente – ficando apenas a fabricação de peças para estoques de pós-venda. A terceira unidade, do Troller, localizada em Horizonte (CE) continuará em operação até o fim deste ano. Em 2019, foi fechada a fábrica de caminhões.

Com essa decisão, os modelos nacionais continuarão a ser vendidos até terminarem os estoques. Depois disso, os veículos da marca comercializados no mercado brasileiro passarão a ser importados de unidades da Argentina, do Uruguai e de outras regiões fora da América do Sul. Modelos já confirmados para lançamento por aqui estão os novos Transit, Ranger, Bronco e Mustang Mach1.

5 motivos para o fechamento das fábricas

1. Custos no Brasil

A carga tributária brasileira, que é alta e complexa, somada aos custos de logística contribuíram muito para a decisão da Ford. Investir em outros países é menos oneroso e mais simples. Embora a empresa não tenha mencionado esse fator, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) o fez em comunicado ao UOL Carros, de que o fechamento das fábricas da Ford “corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local e global e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil”.

É importante lembrar que a fábrica de veículos leves da Mercedes-Benz também fechou este mês em Iracemápolis (SP).

Leia aqui: Ford: Saída reforça alerta de custo para produção no país, diz Anfavea.

2. Alta do dólar

Fora o que é importado (em torno de 40%), componentes fundamentais para a montagem de veículos, como aço, são cotados em dólar, ainda que comprados no Brasil. Com o real cada vez mais desvalorizado frente à moeda americana, o custo de produção fica cada vez mais alto, enquanto o lucro fica cada vez mais reduzido.

Sobre esse ponto, não há nada de estranho no fato de uma empresa buscar ter lucro em relação aos investimentos que faz.

3. Reestruturação global

Reestruturar para aumentar o lucro e reduzir custos é um fenômeno global e tem acontecido com outras montadoras, como a fusão recente entre a Fiat Crysler Automobiles (FCA) e a PSA Peugeout Citroen, aprovada pelos acionistas no dia 4 deste mês, que criou a megaempresa Stellantis.

No caso da Ford, manter-se sozinha nesse mercado automobilístico tornou-se inviável. Houve fechamento de fábricas nos Estados Unidos também, onde encerrou a produção de carros de passeios (sobrando apenas o icônico Mustang) para focar em SUVs, picapes e utilitários.

4. Eletrificação

O futuro aponta para a produção de veículos que tenham cada vez mais conectividade e que dependam cada vez menos de combustíveis fósseis, ou seja, movidos a eletricidade. Investir na produção de veículos com esse nível de tecnologia ficaria muito caro no Brasil. Para atender consumidores para os veículos mais top de linha só por meio de importação do que for fabricado em outros países.

5. Pandemia

A crise econômica causada pelo coronavírus afetou o mundo todo em diferentes proporções. Para quem já estava na corda bamba, foi a gota que faltava para a tomada de decisões que talvez pudessem ser adiadas por mais um tempo. É bom lembrar que grandes empresas não trabalham apenas com dados do presente, mas com perspectivas de médio e de longo prazos em seu planejamento.

No caso do Brasil, infelizmente as incertezas em relação ao futuro assombram muitas delas, independentemente da pandemia. Tanto que as Operações Diretas no País (ODP), que mostram os investimentos estrangeiros aqui, caíram 41% nos oito primeiros meses de 2020 em comparação em comparação ao mesmo período de 2019. Isso é um péssimo indicativo.

Desde 1919 no Brasil

No país desde 1919, a Ford manterá o Centro de Desenvolvimento de Produto na Bahia, o Campo de Provas em Tatuí (SP) e sua sede regional na capital paulista.

“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford.

Para amenizar o impacto do fechamento das fábricas, a equipe econômica brasileira está procurando montadoras chinesas para assumirem as unidades. Leia aqui: Equipe de Guedes culpa custo Brasil e sonda chineses para assumir fábricas da Ford.

Consumidores e funcionários

De acordo com a Ford, os consumidores continuarão a ter os serviços de assistência nas operações de venda, de peças de reposição e de garantia. Em relação aos funcionários, a agência de notícias Bloomberg prevê que 5 mil perderão o emprego em toda a América do Sul, mas a montadora não confirma esse número, afirmando apenas que vai trabalhar em colaboração com os sindicatos e outros parceiros para desenvolver um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção.

Muitas pessoas que estavam esperando a entrega de veículos leves da marca solicitaram o cancelamento da compra e pediram o dinheiro de volta. Com isso, concessionárias e vendedores – que também foram surpreendidos com a notícia – entraram na roda e terão de ver como irão compensar possíveis prejuízos. Leia aqui: Clientes cancelam compra de carros da Ford e pedem dinheiro de volta.

O impacto, porém, vai além dos funcionários que trabalham diretamente para a Ford, pois há toda uma cadeia indireta envolvida e que também terá pessoas e empresas prejudicadas por essa decisão da montadora. Dessa forma, serão bem mais de 5 mil pessoas afetadas.

Covid está em todos os países

Uma indagação a fazer é por que fechar as fábricas no Brasil, considerando que o coronavírus está presente em todos os outros países nos quais a montadora está presente? Impostos altos, reforma tributária que nunca sai do papel, insegurança jurídica, instabilidade política são alguns dos aspectos a serem considerados. O que não dá para negar é que o fechamento dessas fábricas causará um impacto muito negativo na nossa já tão debilitada economia e na vida de muitas famílias por causa do desemprego.

Leia a opinião do colunista Jorge Moraes sobre o assunto: Ford só abriu a fila: mais montadores fecharão fábricas no Brasil.

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Escrito por Amandina Morbeck | Foto: Reprodução

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