Em 2020, o endividamento familiar atingiu o maior patamar dos últimos 11 anos

Em meio à pandemia e suas consequências, como desemprego, o endividamento familiar em 2020 atingiu o maior patamar dos últimos 11 anos: 66,5%. Em 2019, esse percentual ficou em 63,6%. O número de famílias inadimplentes (com contas ou dívidas em atraso por pelo menos 90 dias) chegou a 25,5% (contra 24% em 2019) e sem condições de quitar dívida em atraso alcançou 11% (contra 9,6% em 2019).*

(*Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo [CNC].)

Histórico de endividamento

Embora a crise sanitária tenha causado estrago considerável na nossa economia, o problema do endividamento não é novo. Desde 2010, quando começou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), que o percentual não fica abaixo de 60%. E os “vilões” também permanecem praticamente inalterados: cartão de crédito, carnês e financiamento de carro aparecem em primeiro, segundo e terceiro lugares, respectivamente.

Com a repetição desses dados ano após ano, comprovamos como é importante investir em educação financeira para que, aos poucos, esse padrão de comportamento seja modificado e o consumo seja feito de forma mais consciente. A questão não está em não consumir, mesmo porque isso é impossível. Para nossa sobrevivência, somos todos consumidores. Mas não precisamos ser consumistas, comprometendo o orçamento em níveis que fogem do controle – porque é daí que vem o endividamento, quando os gastos superam os ganhos e isso vira uma bola de neve.

Existe saída para o endividamento familiar e/ou pessoal?

Sim! E ela passa por um aspecto bem simples: controle orçamentário. Mas para isso é preciso colocar ganhos e gastos mensais no papel, numa planilha ou num aplicativo de celular para facilitar a visualização. Além disso, é importante não fazer isso apenas para um mês, mas para os próximos 12 meses, pois assim nos preparamos para o que vem à frente. Se isso não for feito de forma diligente e nos mínimos detalhes, viveremos nos enganando, muitas vezes repetindo frases batidas e sem sentido, como “não tem dinheiro que chega para minhas despesas”, “o dinheiro escapa das minhas mãos”, “está tudo muito caro”, “preciso de aumento para conseguir quitar dívidas” (vem o aumento e nada muda), “quando eu receber férias, décimo terceiro salário e/ou participação nos lucros vou fazer diferente” (e isso não acontece) e por aí vai.

Por falta de hábito, no início pode ser necessário algum sacrifício para implementação das mudanças. Mas se queremos uma história diferente, precisamos mudar hoje, pois ninguém tem o poder de fazer isso por nós. A primeira delas, que pode causar grande impacto, é parar de usar cartão de crédito a torto e a direito. Como vimos anteriormente, esse pedaço de plástico é a causa número 1 de endividamento. É importante realmente viver de acordo com a capacidade financeira. Fazer isso significa parar de comprar por impulso e também de fazer parcelamentos que vão se acumulando mensalmente. Somados, valores pequenos aqui e ali resultam num montante expressivo.

Frente a qualquer gasto não planejado, a pergunta que precisa ser repetida é: preciso realmente disso? Porque há uma grande diferença entre desejo e necessidade. Isso não significa que nossa existência deva ser condicionada todo o tempo ao consumo apenas do que é necessário. A questão básica é que para o que é desejo nós podemos planejar de acordo com o orçamento, sem impulsividade e sem aperto financeiro.

Planejamento financeiro para demandas diferentes na vida

Planejamento financeiro não é uma ideia abstrata para um dia lá na frente. Ele pode e deve ser estabelecido de forma personalizada e serve como bússola para indicar o caminho no presente e no futuro. Além disso, ele também deve ser flexível e adaptável.

Dentro dele:
a) o que for necessário mensalmente deverá ser contemplado por uma parcela dos ganhos;
b) para imprevistos, a economia e o investimento por determinado período será a tábua de salvação; dessa forma, gastos extras não afetarão o orçamento mensal; e
c) para desejos, sonhos e plano de aposentadoria, por exemplo, os investimentos serão realizados para alcançar os objetivos ao longo do tempo, conforme a capacidade de poupança com base no orçamento.

Em princípio, tudo isso pode parecer utópico, mas não é. Independentemente dos ganhos mensais, deixar o endividamento familiar ou pessoal requer um primeiro passo em direção a uma nova realidade financeira. E quando os resultados pelas novas escolhas começam a se materializar, eles servem como combustível para a continuidade dos propósitos.

Escrito por Amandina Morbeck | Imagem: Karolina Grabowska/Pexels

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