Pirâmide financeira e Bernie Madoff

Você já deve ter ouvido falar sobre pirâmide financeira, também conhecida como esquema Ponzi, mas talvez não saiba quem é Bernie Madoff. Esse americano nascido em 29/4/1938 no Queens, um bairro da cidade de Nova York, formou-se em direito e fundou a Bernard L. Madoff Investment Securities, uma empresa de investimentos que, de 1991 a 2008, gerava rendimentos anuais acima da média aos seus investidores.

Graças ao seu sucesso no mundo financeiro, entrou para a lista de bilionários, circulava com pompa e circunstância em meio a celebridades e à alta classe americana e mundial, ajudou a fundar Wall Street, ocupou um cobiçado cargo na Nasdaq (a bolsa de valores americana onde são negociadas as ações de empresas de tecnologia), vivia com ostentação e luxo na companhia de sua esposa e de seus dois filhos e era reverenciado por ser tão bem-sucedido, construindo com maestria uma carreira invejável.

O lado oculto do sucesso

Mas por trás de tudo isso, Madoff guardava um segredo protegido a mil chaves: todo aquele império nada mais era que um castelo de cartas que um vento mais forte poderia derrubar. E derrubou… O que ele estava fazendo nada mais era que alimentar uma pirâmide financeira (também conhecida por esquema Ponzi graças ao seu precursor, o italo-americano Charles Ponzi), enganando autoridades e investidores por tantos anos sem que ninguém desconfiasse. Sua autoconfiança era absoluta, ele parecia não acreditar que um dia poderia ser descoberto. Como se nada nem ninguém pudesse trazer à luz o que estava coberto pelo jogo sujo que fazia, contando com a excessiva confiança de seus investidores e de seus funcionários.

E foi assim que ele tornou-se o maior operador de pirâmide financeira da história mundial.

Prejuízo bilionário de Bernie Madoff

O valor é assustador: foram US$ 64,8 bilhões de prejuízo a seus 4.800 clientes de sua carteira em novembro/2008.

Madoff já havia sido investigado anteriormente por suspeita de má conduta, mas nenhuma ação foi tomada e nenhuma investigação teve continuidade. Aos investidores, emitia até notas de negociação falsificadas. Com a crise financeira de 2008, quando os mercados mundiais afundaram e as pessoas começaram a sacar seus investimentos em meio à quebradeira, seu esquema fraudulento foi descoberto. Afinal, não havia dinheiro suficiente em suas contas para fazer retiradas e pagar todo mundo: os saques de recursos em grande quantidade, sem a compensação com a entrada (captação) vinda de outros investidores para cobrir o rombo (que é uma das características de pirâmide financeira), fez com que ele admitisse o que vinha fazendo de forma criminosa ao longo de tantos anos.

Inicialmente, ele compartilhou que estava em apuros apenas com seus dois filhos e com sua esposa. Com a possibilidade de serem acusados de cúmplices do pai, já que ambos sempre trabalharam com os negócios familiares, os filhos consultaram seus advogados e foram orientados a fazerem uma denúncia às autoridades federais americanas. No dia 11/12/2008 Madoff foi preso em seu apartamento, mas voltou para casa logo depois, onde permaneceu em prisão domiciliar até 12/3/2009.

Em 2009, aos 71 anos, Madoff declarou-se culpado de 11 crimes federais, incluindo lavagem de dinheiro. Foi sentenciado a 150 anos de prisão. Já preso, seu filho Mark se matou em 2010 e o outro, Andrew, morreu por causa de um linfoma em 2014. Sua ex-mulher vive sozinha numa pequena cidade do estado de Connecticut. Seus advogados tentaram tirá-lo da penitenciária em Butner, Carolina do Norte, por problemas de saúde, mas o pedido foi negado. Madoff sofria de problemas renais e fazia diálise (atualização: ele acabou falecendo na prisão em 14/4/2021).

Desde 2001 foram distribuídos mais de US$ 80 milhões em compensação para suas vítimas ou para seus herdeiros, já que algumas pessoas se mataram ou adoeceram seriamente quando descobriram que estavam quebradas.

Em 2017, Roberto de Niro protagonizou Madoff no filme O mago das mentiras, lançado pela HBO.

Como reconhecer o esquema de pirâmide financeira

1. Promessa de ganhos fáceis e altos retornos (sem riscos) num período muito curto e com fluxos regulares de rendimentos (que podem ser limitados a um número definido de saques mensais de até determinado valor, por exemplo), independentemente das reais condições da economia.

2. Não há registro nos órgãos reguladores e fiscalizadores brasileiros, como a Comissão de Valores Mobiliários, dispensando a declaração dos investimentos à Receita Federal.

3. Lucros ou rendimentos dependem de haver mais aportes pelos “investidores” ou do recrutamento de mais participantes, ou seja, é necessário que você e todos os que estão na roda tragam mais pessoas com dinheiro para “investir”. Somente dessa forma é possível haver entrada de recursos para pagar os prometidos rendimentos.

4. Inexistência de um produto ou de um serviço a ser comercializado ou, se houver, ele pode ser usado apenas como fachada. A comercialização do produto ou do serviço torna-se irrelevante porque o foco da estratégia está na captação de novos “investidores”.

5. Exibicionismo e ostentação – em geral, os proprietários ou representantes das pirâmides financeiras exibem luxo e riqueza. Geralmente,  aviões, mansões, iates e carros de luxo são “comprovação” de sucesso e utilizados como isca para atrair “investidores”.

6. Os tais investimentos incríveis, bem como seus participantes, não estão registrados em órgãos de controle financeiro. Ou seja, sem vínculos com normas legais, trabalhistas ou tributárias, ao passo que qualquer investimento legal via bancos ou corretoras é registrado e precisa ser declarado pelo cidadão (no Imposto de Renda, por exemplo).

7. Convite de um(a) amigo(a) para te apresentar “algo incrível” com ganhos excepcionais. Pode ser por meio de um bate-papo ao vivo ou por Skype, uma palestra fechada e exclusiva, uma teleconferência etc.

8- As últimas pessoas a entrarem no esquema sempre vão tomar prejuízo por não conseguirem captar novos integrantes para, só então, recuperarem seus “investimentos”. Vai batendo desespero quando a pessoa começa a perceber que caiu num golpe.

9- Algumas pirâmides são apresentadas como marketing multinível (MMN), que é uma estratégia legalizada para venda de produtos e de serviços reais, classificada no Brasil como venda direta.

“Pirâmides envolvem produtos ou serviços de baixo valor e de difícil entendimento, sem regras claras de remuneração, e exigem que você invista dinheiro antecipadamente. Elas não se sustentam a longo prazo porque, para isso, precisariam envolver todas as pessoas do planeta. Desconfie de tudo que oferece um ganho muito vantajoso além dos ativos do mercado tradicional.”
Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)

Leia também: Fuja das pirâmides financeiras.

Para finalizar

Espero tê-lo(a) ajudado a compreender o funcionamento das pirâmides financeiras e evitar cair na conversa de promessas de ganhos fáceis. Tudo isso mostra, mais uma vez, a importância da educação financeira para que você saiba se proteger e buscar por investimentos com segurança. Conheça nosso Curso sobre Finanças Pessoais e Planejamento Financeiro, que certamente te ajudará a construir seu patrimônio e a cuidar do seu dinheiro de forma consistente, séria e lícita.

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Escrito por Amandina Morbeck | Foto: Reprodução

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